Ataque de Ransomware à Rede Varejista do Piauí: Um Alerta para a Cibersegurança no Brasil
Um ataque cibernético devastador atingiu a rede de farmácias Drogarias Globo e sua distribuidora, Nazaria, ambas pertencentes ao Grupo Jorge Batista, no Piauí. Este foi o primeiro caso registrado no Brasil do novo ransomware Gunra, que, desde 12 de maio de 2025, paralisou as operações comerciais, gerando prejuízos estimados em R$ 400 milhões. O incidente destaca a crescente ameaça dos ataques de ransomware e a necessidade urgente de medidas robustas de cibersegurança no país. Neste artigo, exploramos a natureza do ataque, como o ransomware funciona, as táticas dos grupos hackers, estratégias de proteção e o estado da cibersegurança no Brasil, com sugestões de melhorias.
O Ataque de Ransomware no Piauí: O Que Aconteceu?
No dia 12 de maio de 2025, o Grupo Jorge Batista, um dos maiores conglomerados do Piauí, foi vítima de um ataque de ransomware perpetrado pelo grupo Gunra. O ataque interrompeu todas as operações comerciais, paralisando as vendas nas lojas da Drogarias Globo e a distribuição da Nazaria. Os atacantes exigiram um resgate em criptomoedas para liberar o acesso aos sistemas e dados comprometidos. Não está claro se o grupo pagou o resgate ou o valor exato exigido, mas o impacto financeiro foi estimado em R$ 400 milhões. A equipe de segurança de TI da empresa trabalha para restaurar os serviços, mas o ataque expôs vulnerabilidades críticas em sua infraestrutura.
O grupo Gunra listou o Grupo Jorge Batista em seu site na dark web, onde dados roubados, como planilhas financeiras, estão supostamente disponíveis. O acesso a esses arquivos exige negociação com os atacantes, uma tática comum para pressionar as vítimas a pagar o resgate. Esse incidente evidencia a sofisticação e a ousadia das operações cibercriminosas modernas.
Entendendo o Ransomware: Como Funciona o Ataque
Ransomware é um tipo de malware que criptografa os dados da vítima, tornando-os inacessíveis até que um resgate seja pago, geralmente em criptomoedas como Bitcoin, devido ao anonimato que oferecem. O ataque ao Grupo Jorge Batista é um exemplo clássico de ransomware, no qual sistemas essenciais para as operações comerciais foram bloqueados, interrompendo toda a cadeia de suprimentos.
Os ataques de ransomware geralmente seguem estas etapas:
- Acesso Inicial: Os atacantes entram por meio de e-mails de phishing, vulnerabilidades em softwares ou credenciais comprometidas. Por exemplo, e-mails de phishing podem induzir funcionários a clicar em links maliciosos ou baixar anexos infectados.
- Infecção e Criptografia: Uma vez dentro, o ransomware se espalha pela rede, criptografando arquivos e sistemas. Variantes avançadas, como o Gunra, podem atingir backups para maximizar o impacto.
- Exigência de Resgate: Os atacantes demandam pagamento, frequentemente acompanhado de ameaças de vazar dados roubados na dark web se o resgate não for pago.
- Negociação e Extorsão: As vítimas podem negociar com os atacantes por canais criptografados, como no caso do portal da Gunra na dark web, que exige contato para acesso aos dados.
- Recuperação ou Perda: Se o resgate for pago, os atacantes podem (ou não) fornecer chaves de descriptografia. Sem backups, as vítimas enfrentam perda permanente de dados ou esforços prolongados de recuperação.
O ransomware Gunra, novo no Brasil, demonstra como os cibercriminosos estão evoluindo, utilizando variantes sofisticadas para atingir organizações de alto valor.
Como Grupos Hackers Operam: Exemplos e Táticas
Os grupos cibercriminosos, como o Gunra, operam com precisão quase empresarial, muitas vezes funcionando como sindicatos organizados. Aqui estão exemplos de como esses grupos agem e suas táticas:
- REvil (Sodinokibi): Esse grupo notório atacou empresas como a JBS, gigante brasileira do setor de carnes, em 2021, exigindo US$ 11 milhões em Bitcoin. O REvil usava a dupla extorsão, criptografando dados e ameaçando vazar informações sensíveis, uma tática semelhante à do Gunra no ataque ao Piauí.
- Conti: Conhecido por atacar instituições de saúde e governamentais, o Conti explorava vulnerabilidades em softwares como o Microsoft Exchange Server para obter acesso. Eles mantinham sites de vazamento para pressionar vítimas, similar à estratégia do Gunra na dark web.
- LockBit: Esse grupo opera um modelo de ransomware-as-a-service (RaaS), licenciando seu malware para afiliados que executam os ataques. As ferramentas automatizadas do LockBit podem criptografar redes rapidamente, um método provavelmente usado em ataques sofisticados como o do Gunra.
Esses grupos frequentemente exploram erros humanos ou sistemas desatualizados. Campanhas de phishing, por exemplo, podem se passar por entidades confiáveis para enganar funcionários e obter credenciais. Uma vez dentro, os atacantes usam movimentação lateral para comprometer sistemas críticos, incluindo backups, maximizando seu poder de barganha. O ataque no Piauí sugere que o Gunra empregou táticas semelhantes, visando o “coração” da rede para paralisar as operações.
Como se Proteger Contra Ransomware: Medidas Práticas
A prevenção contra ransomware exige uma abordagem multifacetada de cibersegurança. Aqui estão estratégias que empresas e indivíduos podem adotar:
- Backups Regulares: Mantenha backups offline ou em nuvem, testados regularmente e isolados da rede principal. Isso garante a recuperação de dados sem a necessidade de pagar resgate.
- Treinamento de Funcionários: Eduque a equipe para reconhecer e-mails de phishing e links suspeitos. Exercícios simulados de phishing podem reforçar a conscientização.
- Gerenciamento de Patches: Mantenha softwares e sistemas atualizados para corrigir vulnerabilidades. O ataque no Piauí pode ter explorado sistemas não corrigidos, um ponto de entrada comum.
- Proteção de Endpoints: Implante ferramentas avançadas de antivírus e detecção de endpoints para identificar e bloquear malware antes que se espalhe.
- Segmentação de Rede: Limite a movimentação lateral segmentando a rede, garantindo que uma violação em uma área não comprometa todo o sistema.
- Arquitetura Zero Trust: Adote uma abordagem de “não confiar em ninguém”, exigindo autenticação contínua para todos os usuários e dispositivos que acessam a rede.
- Plano de Resposta a Incidentes: Desenvolva e teste um plano para responder a ataques cibernéticos, incluindo protocolos de comunicação e procedimentos de recuperação.
- Autenticação Multifator (MFA): Implemente MFA para proteger o acesso a sistemas críticos, reduzindo o risco de credenciais comprometidas.
Para empresas como o Grupo Jorge Batista, investir nessas medidas poderia ter mitigado o impacto do ataque do Gunra. Auditorias regulares e testes de penetração podem identificar fraquezas antes que os atacantes as explorem.
Cibersegurança no Brasil: Desafios e Oportunidades
O Brasil enfrenta uma crise crescente de cibersegurança, com ataques de ransomware cada vez mais frequentes e sofisticados. Segundo um relatório da Sophos de 2023, 83% das empresas brasileiras atingidas por ransomware pagaram o resgate, com um valor médio de R$ 6,2 milhões. Em 2024, violações de dados comprometeram 84,6 milhões de contas, um aumento de 2.322% em relação a 2023, colocando o Brasil na sétima posição global em impacto de cyberattacks. O incidente no Piauí é um lembrete claro dessas vulnerabilidades.
Os principais desafios na cibersegurança brasileira incluem:
- Investimento Insuficiente: Muitas organizações, especialmente pequenas e médias empresas, subfinanciam a cibersegurança, deixando-as expostas a ataques.
- Falta de Conscientização: Funcionários frequentemente carecem de treinamento sobre ameaças cibernéticas, tornando o phishing um vetor de ataque predominante.
- Lacunas Regulatórias: Embora a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) imponha proteção de dados, a conformidade é inconsistente, e a fiscalização ainda está evoluindo.
- Vulnerabilidades em Backups: Como visto no ataque do Piauí, backups são alvos principais, mas muitas empresas não os protegem adequadamente.
Para melhorar a cibersegurança, o Brasil deve abordar essas questões por meio de:
- Aumento de Investimento: Empresas e órgãos governamentais devem priorizar orçamentos de cibersegurança, focando em ferramentas avançadas de detecção e resposta a ameaças.
- Campanhas de Conscientização Pública: Iniciativas nacionais para educar empresas e indivíduos sobre ameaças cibernéticas podem reduzir brechas causadas por erros humanos.
- Regulamentações Mais Fortes: Reforçar a aplicação da LGPD e introduzir padrões de cibersegurança específicos por setor pode impulsionar a conformidade.
- Parcerias Público-Privadas: Colaborações entre governo, academia e indústria, como o projeto SoberanIA do Piauí, podem fomentar inovação e resiliência.
- Desenvolvimento de Mão de Obra Qualificada: Programas de treinamento para suprir a escassez de profissionais de cibersegurança podem fortalecer as defesas.
O desenvolvimento do SoberanIA pelo governo do Piauí, uma IA em língua portuguesa para uso no setor público, é um passo em direção à soberania tecnológica e à inovação em cibersegurança. Iniciativas como essa podem servir de modelo para outras regiões.
Conclusão
O ataque de ransomware ao Grupo Jorge Batista pelo variante Gunra é um alerta para os setores público e privado no Brasil. Com prejuízos de R$ 400 milhões e interrupções contínuas, o incidente destaca o impacto devastador do cibercrime. Compreender como o ransomware opera, aprender com as táticas de grupos como Gunra, REvil e Conti e implementar medidas robustas de proteção são passos essenciais para a segurança digital. O cenário de cibersegurança no Brasil, embora desafiador, oferece oportunidades de melhoria por meio de investimentos, educação e colaboração. À medida que as ameaças cibernéticas evoluem, medidas proativas e uma cultura de vigilância são fundamentais para proteger contra o próximo ataque.